sábado, 26 de junho de 2010

Breves observações sobre a virtualidade (...)


                                                                                                                                                                                                                                      Foto: Luana Magrela
Estivemos por muito tempo fora. E essa frase definitivamente não pode transformar-se em algo recorrente. Não se esta estiver atrelada a fortúnios culturais. Necessitamos sempre expor os acontecimentos, para que assim possamos ser considerados legítimos.
Pagamos pela culpa que a coercitividade tecnológica nos impões. Mas, deixando-me escorrer de pessimismo sociológico, a vida moderna é isso e como essas obrigações coercitivas, há tantas outras.
Voltamos dessa maneira, não para justificar nossa ausência em cima de alegações piegas, mas usamos dela para lançarmos olhares para o principal mecanismo que compõe a sociabilidade de nossa geração. Encaremos isso como um estudo distanciado. Uma metalinguagem do próprio mecanismo.
 A internet é rio, onde podemos tacar tudo. E tacamos. Difícil é a tarefa do pescador. Deve estar sempre atento aquilo que colocará pra dentro ou alimentará os outros. Olhar para as águas desse rio talvez seja mais, a nosso ver, compreender sua importância pra engrenagem da matéria em geral, do peixe, do pescador, da própria água, da boca e do alimento. Água parada é o primeiro passo para a insalubridade. Na corredeira, ninguém entra, ao mesmo passo que ficar de fora, olhando pra ela, passa a ser aterrorizantemente banal.
Enfim, este se trata de um texto introdutório. Explicativo ou conclusivo, que seja!
No entanto, isso se deve não porque mudamos, não porque sejamos outros, mas porque realmente consideramos a importância da exposição das ações a pleno pulmões principalmente quando se trata de cultura. Esta tem de ser gritada para que realmente a sociedade que ainda se mantém retrógrada (e acreditando que sim, essa parcela da população está prestes a definhar-se) possa compreender a verdadeira funcionalidade da cultura e situá-la pertinentemente ao contexto em que vivemos hoje.
Já disse Bauman que a proximidade virtual pressupõe pouca contigüidade de corpos, da própria vida real. Contrapondo-se a sagacidade do autor, achamos que de certa forma, em certas horas, nos encontramos deslocados dentro desse paradigma. Para o bem ou para o mal?
Gostamos de rua, de asfalto, de papel (escrito ou desenhado) e de tesoura. Isso, de maneira lúdica, poderia até em certa medida nos classificar como rebeldes chulos (sendo que estes também não passam de deslocados).
No entanto e em linhas gerais, confirmamos aqui que mantemos o tato. As significâncias virtuais vão acontecendo e sua coersão não é mais atrelada ao mensuravelmente banal da já em andamento Revolução Informativa, mas percebe-se que o tempo que estrutura a identidade se faz com poucos caracteres sim, menos de 140, é subjetivo e algo inalcançável. Não queremos alcançar nada. Não nos propomos a isso. Mais do que uma empresa pautada em metas, prezamos ainda pela pelas especificidades humanas de ver, tocar e sentir.
Não teremos receio de acreditarmos em uma geração que se baseia na virtualidade, que se mantém em uma consonância a par da realidade, pois há sim dentro dessa perspectiva, algo de transformador potencializado e que vem engrenando-se.  Igualmente, sentimo-nos libertos o suficiente para não termos receio de colocarmos em uma balança o real e o virtual e tirarmos dali a conclusão de que cultura antes de bites é aquilo que te faz sentir calor. Definitivamente, nossos exercícios sobressaíram-se aos dos dedos e caixas luminosas.
Referindo-se à metáfora que usamos acima: nesse rio, acho que estamos preferindo ficar de fora, ajudando a alimentar os peixes, permitindo-se e deleitando-se aos encontros à margem.
Vamos contando. Antes, vamos andando.