domingo, 31 de janeiro de 2010

Do samba ao pano pra manga

O mercado nunca deveria ser o mediador da cultura muito menos servir de estímulo ou termômetro para a aferição de uma produtividade, competência ou circulação cultural.

Podemos perceber que, desde o dia que o discurso da acessibilidade entrou em pauta, não demorou muito para que este aceitasse os parâmetros mercadológicos, seja para adequação e maior facilidade dentro do sistema, ou pelo simples fato de fazer o contrário, tendo os olhos fixos naquilo que não poderia dar certo, ou pelo menos, não deveria.

A cultura não tem peso, não tem medida, não tem cor, nem “verdinhas”,impressas na forma de cifrões. Muito erro de percurso tem início por aí e acaba que o que era pra ser dialético, transforma-se em cooptação ou mero comodismo.

A classe artística se ajeita. Não precisa de horizonte nem objetivo. O “estar” parece ser suficiente quando o “ser” torna-se mais meticuloso.

Sem precisar transcorrer aqui as implicações que sugestionam essas duas circunstâncias, nota-se que em muito o pensamento cultural (lembrando que isso não é “privilégio” do Brasil, mas da maioria dos países menos envoltos às cartilhas desenvolvimentistas) do nosso país leva ainda marcas de uma corrupção estrutural. No último post fizemos uma discussão sobre o que a própria cultura da organização sócio-econômica brasileira deu de herança ao cidadão brasileiro.

Quase ousamos a falar aqui que este se privou de si mesmo.

Mas a gente falando tanto do mercado e das ideologias que este pode imbricar nas diversas ramificações e dimensões que brotam atividade artística em nosso país, podemos observar que ainda assim, este é o principal mecanismo que absorve e engendra as manifestações cunhadas de expressão cultural em nosso contexto. A Lei Rouanet, comprovou que mecenato é para dar retorno e para quem der retorno. Seria usada sabiamente se a parcela artística e envolvida com a produção cultural tivesse mais entendimento sobre o que esse mecanismo político-público-cultural-democrático (ufa!) seria capaz de fazer. Um entrave fadado a se travar. A construção do próprio conceito de liberdade em nossa democracia não nos permitiu isso. Usar as intenções do mercado a favor de uma própria desestruturação do sistema era mais do que poderíamos confirmar, e se acontecesse, no estado em que anda a coisa pública em nosso país, os créditos deveriam ser concedidos a poucos MacGyvers da burocracia cultural.

Mas o tempo está acabando. Assim como vai indo a Lei Rouanet do jeito que conhecíamos até hoje. Põe-se fim ao mecenato e passa para a responsabilidade do Estado (!) estabelecer as limitações e possíveis brechas para a organização da multiplicidade cultural.

O Estado mandando na maneira de expressão da população já é figurinha conhecida “por geral” aqui em nosso país e em vários outros, por isso não precisamos aqui reconstruir essas raízes históricas. Tem lugar que isso faz sucesso, tem lugar que é o caos. Ah, se tudo fosse Paris faltaria a nós somente a Torre Eiffel. Mas aqui só tem pilar e Jesus Cristo na montanha, e um monte de gente agarrada tanto em um como em outro.

As conseqüências do Procultura e da mudança nas escolhas institucionais a respeito da condução dos mecanismos políticos e aprovação da produtividade cultural ainda é algo que recentemente bate a nossa a porta, mas que já vem a muito sendo prenunciado em murmúrios. Mercado... Estado... Qual é o tipo de armadura que devemos usar agora? A velha pergunta de Noel Rosa cabe aqui, hein?

Se a manipulação beirasse a ditatorial, poderíamos tirar proveito das experiências de nossos antepassados, pois o distanciamento histórico poderia nos permitir isso. Mas hoje, já temos a nossa democracia particular e já sentimos o que é flertar com o Mercado. Encarar o Estado e suas concordâncias a respeito da cadeia produtiva da cultura nos dias de hoje, pode requerer de nós um pouco mais de habilidade. A sensação de privação da liberdade já não "existe" mais, tudo isso por conta do desenvolvimento liberal desenfreado, praticamente fora do seu lugar. Não cabe aqui indagarmos o que essa liberdade toda fez de nós, mas o que deveríamos fazer com ela. Saímos de um erro e podemos estar prestes a cair em outro. Se o fato de tratar a cultura a partir dos reflexos de relacionamentos econômicos e de mercado é por si só incongruência e falta de reconhecimento da mesma como um direito inerente de qualquer indivíduo, e se esse fato já era absurdo para muitos pensadores dessa esfera em nossa sociedade, que eles percam os cabelos ou fiquem boquiabertos com os resultados e conseqüências que as exigências do estado poderão influir no manejo da criação artística em nosso país. Não seria essa a hora (e a necessidade tardiamente entendida) da vida artística participar da modelagem da Instituição que lhe foi conferida? Difícil agora é ter resposta para algo já vivido, só que agora em outras vestes e com outros convidados para a festa...

Para arrematar a questão e deixar-nos inquietos, encontramos algumas observações da Marilena Chauí, filósofa conhecida dos assuntadores culturais. Foram feitas a um bom tempo, mas no entanto, infelizmente parecem não ter perdido sua pertinência.

Só um pedacinho para incitar a curiosidade. Se interessar, o resto tá na rede...


quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Tá doente porquê?


Envolver em um só assunto as palavras Cultura e Política, muitas das vezes levam as pessoas de antemão torcerem o nariz para tudo o que vem em decorrência dessa concordância literal.
Passando por alguns sites que discutem políticas culturais e que pensam as novas formas de articulação social e econômica no setor, a gente sempre se depara com isso.

Seria pecado vincular Cultura a Política e vice-versa, ou o pecado estaria no baixo entendimento de que as pessoas têm do próprio processo de desenvolvimento humano e dessa sociedadezinha complexa?
Sim, propomos uma viagem, dos primórdios ao futuro: quer coisa mais do bicho homem do que se identificar, codificar e socia(bi)lizar?

Mas o pecado não é nosso, não é seu, não é deles. Num exercício paradoxal a gente pode perceber que, tá aí, o pecado é cultural. Essa afirmação pode até ter pé, mas trabalhemos para que a cabeça dela role logo, logo.

Novo é o partidarismo. Tão novo e tão vigente que cega os olhos, confunde as cabeças e joga de mãos dadas em um mesmo saco a política e o panfleto, teimando para que estes nunca desfaçam esse nó. Essa irmandade siamesa aos relacionamentos internos e sectarista para os olhares de fora (entre política e partido), acaba virando reza que sai da boca de uma legião de desentendidos (?) e/ou desinteressados (?).
Tá assim, é assim e vai ser: toda ação política tem bandeira, e sendo má ou não (?), nem pensar em relacioná-la à pureza antropológica da cultura. Se fosse assim, a solução seria ficarmos trancafiados e calados em casa, ouvindo as nuances de alguma cultura raiz.

Não deveríamos entender que a cultura é raiz, que a raiz tem ramificações, que as ramificações cuidam da comunicação, que esta ultima é capaz de relacionar tudo em intercâmbios entre diferentes dimensões de um mesmo contexto?

Dá pra ver que conceituar política dá trabalho. O menor deles é relacioná-la a qualquer “santinho” de época de eleição. No entanto, entender a verdadeira capacidade das relações políticas não é para nenhum “grão-mestre”. A comunicação é o principal elemento da política e um dos pré-requisitos quando o papo cai na democracia. Quer mais capacidade de expressão que a cultura pode fomentar, afirmar e demandar?

A gente fica assim, com medo de ser “pidão” e com receio dos que pedem demais. Aí engolimos qualquer coisa, desde a hipótese de passarmos as noites vigiando a vida dos outros pela TV até o fato de comprarmos aquele Best-seller que o amigo do trabalho recomendou. Olha lá que recomendação pode ser também política, tanto boa quanto má...

Por isso, trocando em miúdos, como mudar a percepção de milhares em relação ao fato de que Política é muito mais que P(SIGLAS)? Como reconhecer a cultura em meio disso se muitos deles desconhecem (por diversos motivos) a própria cidadania?

“Mas, chora não. Se o problema é cultural, tem-se aqui um remedinho que para um começo e para melhores resultados, deve ser tomado homeopaticamente, no entanto maneira constante.”

- E não é que essa moléstia cultural a gente se trata com cultura?

(...)

- Luizinho! Traz a colher que já tá na hora da dose!


P.S: A inspiração vem de onde?
http://www.culturaemercado.com.br/ideias/r-22-bilhoes-para-a-cultura/

domingo, 24 de janeiro de 2010

Gosto de cultura...


Estreou semana passada, no recém inaugurado Espaço Veredas do Grupo de Teatro da Associação Veredas da Arte, a peça teatral O Abismo, contando com a direção de Fransérgio Araújo.

De inspiração brechtiana, O Abismo conseguiu guardar em sua veste contemporânea tudo que vem sendo cada vez mais colocado em alarde dentro das discussões de importantes pensadores sociais: ego, liberdade, fé e, como já ditou Milton em bocas de Doces Bárbaros, faca amolada.

Na cultura, precisamos disso. Arte e democracia andam juntas, certo? Nada melhor que ações como está comecem a vislumbrar esse potencial transformador, que tá ali, tacado na cara.

Já na segunda apresentação, na qual tivemos oportunidade de assistir e entrar em concordância sobre tudo aquilo que está rolando de produtivo nesse meio, pensamos sobre a hora de nos permitirmos agir. Usar cultura para abrir os olhos, é o que há!

Além d´O Abismo, acontece nas dependências do Veredas, exposições plásticas e literárias dos artistas e colaboradores. O Tamboril está por lá, levando a Carta do Cerrado para mais um ambiente de cultura em Uberlândia.

Vale à pena estar presente na peça para ver o ótimo desempenham dos atores, vários estudantes e formados da Universidade Federal de Uberlândia, e também pelo fato de estar no coração do centro.

Tubal Vilela pulsando! Adoramos a idéia...

Ficou interessado? Então vai e assiste!

Toda sexta as 22h, no Espaço Veredas, na Praça Tubal Vilela, 181 (em cima do Praça Shopping).

Ah, e rola chegar cedo, pois são 30 senhas e gratuitas que serão distribuidas a partir das 20h!

+ Ação!


Passando pelas ações culturais dessa semana, tivemos ganho para a produção artística em Uberlândia.

O Espaço GOMA apresentou nessa quinta-feira o Programa de Produção e Comunicação Colaborativa. Estruturado a partir de um edital, o programa tem o intuito de chamar os grupos e agentes culturais para uma ocupação mais efetiva do Espaço, contribuindo assim para que as novas maneiras de se pensar a cultura a partir das redes solidárias se instaurem em terreno fértil.

Para saber mais sobre o assunto, passa lá no site do GOMA. Além de conhecer toda a programação de shows do mês lá da casa, você sabendo mais sobre as demais iniciativas do coletivo e do Circuito Fora do Eixo.

Atividade, atividade! Ê trem bão!

sábado, 16 de janeiro de 2010


E o Tamboril tá lá de novo com a Carta do Cerrado e outros poetas!


Hoje: Muriel De Zoppa, Lauana Fidêncio e José Juva no varal...

Bora assinar!

Vazio Cultural


Não ter o que fazer muitas vezes colabora para que a gente veja o tanto que há ainda para se fazer.

Ocorreu nesses dias de descanso uma afirmação em horário nobre: - passamos por um vazio cultural...
Passamos?
“Nem saia às ruas em busca dos teatros, cinemas, bibliotecas, casas de show, pois não vai ter nada.”
Quantos no Brasil sabem o que é cultura (sim, valorativamente falando!)? Não é difícil perceber que a resposta a essa pergunte responde indiretamente a outra.
- Não sei o que é. Serve samba, carnaval, futebol e mulher bonita? O resto tá vazio mesmo, melhor é ficar em casa orkutando fofoca de novela.
Constatar status quo já deveria ter saído de linha...
Essa afirmação responde alguma coisa, ou é essa coisa que responde a afirmação?
Nessa, o conforto se multiplica, toma conta de tudo, mata-se e morrem os poetas (que se tiverem sorte transformam-se em estátuas míopes – não por opção, mas por cultura mesmo) enquanto lúdicos e utópicos definham por entre os artistas incompreendidos.
Mas fica uma parcelinha de gente pensando:
- O que fazer da cultura?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010




Conversa de Botequim e Varal de Poesias



Passada a ressaca dos 15 dias, que voltem os trabalhos!


(Tamboril na Calourada - Março 2009)

O Tamboril começa hoje uma série de exposições literárias, o bom e velho conhecido Varal de Poesias, lá no GOMA!


Junto com a intenção de divulgarmos as letras que compõe a produção poética da UFU hoje, aproveitaremos esses dias para deixar correr um abaixo-assinado em favor da Carta do Cerrado que foi recentemente construída pelos agentes do CEMAS (Centro de Meio Ambiente e Sustentabilidade) em parcerias com outras instâncias dentro da universidade conscientes da importância da sustentabilidade em nossos dias atuais.


Por isso, o Tamboril cumpre agora, contando com a abertura de espaços parceiros como o GOMA, sua função através da arte e chama a atenção para a importância de uma lei que estabeleça o Cerrado como uma biodiversidade tão igual quanto a da Mata Atlântica.


Para saber mais a respeito da carta e de sua formulação, acesse o site do CEMAS ou dá uma passadinha lá na Conversa de Botequim a partir das 21h, que a gente explica! Depois de contribuir com meio ambiente é só curtir o som da galera do Alquimia para Iniciados, banda super original, presente nas andanças do Tamboril.
Ah, e os poetas de hoje são: Mariana Bizinotto, Ricardo Abdala e Leon de Aguiar. Vem conferir!


(Alquimia Para Iniciados no festival MUSGO)

estamos voltando...
Se é isso, então let´s rock!
fotos: Luana Magrela