quinta-feira, 18 de março de 2010

Que palhaçada é essa?


Acho que devemos por esse assunto em voga aqui no blog. Coisa que já tinha passado por nós, mas que retorna a pauta nesses dias: a proibição da venda de bebidas nas festas da Universidade Federal de Uberlândia.

Como disse, esse assunto já tinha causado alguns burburinhos no início desse ano. Fato que levou alguns estudantes da UFU a se manifestarem logo de início no dia da votação de tal “lei” em frente a reitoria. Os dias passaram, mas a ideia da proibição não.

O Tamboril, como agente interessado na fruição de cultura dentro do campus da UFU tem algumas ressalvas a respeito de todo esse processo proibição-manifestação. Depois de uma semana, pensando sobre o que escrever, como escrever e também esperando o feedback da última manifestação que aconteceu na sexta-feira passada, acho que chegou da hora de nos expressarmos e dar a nossa opinião quanto grupo em relação a todos esses acontecimentos.


Falar que a proibição de bebida no campus priva a capacidade de sociabilização dos alunos e a “felicidade” de confraternizar em grupo é um fato tão mixuruca e raso que ganha votação só em salão de festa. Com quem estamos falando? Com a tia no parquinho que não quer mais nos dar o prazer de nos embriagarmos com os amiguinhos no pátio?


A conversa, meus caros, é com gente grande e por isso a altivez e propriedade dos argumentos tem que ultrapassar a simples insatisfação quase que egoísta de não podermos mais nos sentirmos torpes entre amigos. Isso é esfera privada. Tem gente que quer, tem gente que não. O que você se põe pra dentro é uma questão particular. O privatismo é o primeiro passo para que sanções sejam estabelecidas. Seu direito termina onde começa o do próximo. Isso é máxima do tempo da carochinha e tá aí, firme e forte.

Desde já, antevendo as críticas, queremos que todos saibam que sim, compreendemos essa necessidade de confraternizar que faz parte não só da juventude universitária, mas de todo ser humano minimamente saudável. Mas pieguices a parte, deixamos que esse viés seja enaltecido nas mesas de bares, em abraços calorosos depois de duas ou três garrafas de cerveja.


Quando se trata da restrição de um direito e de uma conversa com uma instância superior institucionalizada o papo e o vocabulário é outro. Não precisa ser mestre para compreender isso. O que não podemos é sermos anacrônicos, ficarmos na sensação eminente que tudo se resolve aos gritos que em outros tempo reverberavam com eficiência. Era bonito de ver! Maio de 68 deu certo sim e todos nós hoje agradecemos a fúria e a capacidade de enfrentamento de nossos “antepassados”. Maio de 68... não esperamos hoje, 42 anos mais tarde, que os meios terão a mesma eficácia. Antigamente se gritava, se destruía e conseguia-se algo porque o direito de se manifestar a flor da pele era novo, era arrebatador e devia ser usado. As regras de constituição de todo o mundo foram se modificando e se modelando a partir de então, para o nosso sucesso como sociedade civil. E ainda bem! Pois haja goela para ficarmos nesse grito infindo.


Acreditamos que hoje as discussões e os instrumentos democráticos são outros. Acreditamos não, é fato. É fato também que a nossa vida em sociedade democrática é recentíssima e por isso muitos desses instrumentos são desconhecidos pela maioria da população. Rapaziada treme em frente a burocracia e acaba que no temor ela vira o bicho mesmo. Sentir o medo e a desconfiança nos olhos do “rival” não é só pra animal não.


O que queremos salientar depois de todo esse episódio é que fica perceptível o quanto a juventude de hoje ainda reproduz aquilo de outrora. Culpa da modernidade. Ficamos carente de personalidade própria em meio a um turbilhão de informações e documentações. O grito que outrora deu certo, hoje, meus amigos, infelizmente, é visto como baderna. E é repercutido como tal. Gritar, gritar, gritar é fácil. Nariz de palhaço é R$ 0,20 no centro. Agora, quem se propõem em gastar energias em um debate novo, onde o instrumento principal é a Constituição, os argumentos têm outro tipo de carga (não a privada e sim a pública) e o palco é aquele um, conhecido como casa da justiça? Gastar energia por gastar, que ela seja legitimamente reconhecida. Muitos podem estar incrédulos com tal argumento aqui exposto. E devem estar mesmo. A sociedade brasileira (inclusive os jovens dinâmicos) tem medo da mudança. E isso não é a gente que diz. É particularidade do processo histórico e de democratização do país, revisado por várias vertentes sociológicas, antropológicas e políticas. Não é culpa nossa, não é culpa da “juventude baderneira”. É fato. Por isso então viveremos do lamento? Viveremos na imitação de outras gerações de outros contextos? Temos mesmo uma cara própria?


O direito a cultura é publico. É agente emancipador, intrínseco da capacidade do desenvolvimento humano. Consta na constituição e isso ninguém tasca. Vivemos em um período onde a revolução cultural se faz sentir. A diversidade das diferenças estão aí e mais do que nunca é colocada em pauta o apelo para que elas sejam respeitadas e para que esse sentimento seja compartilhado. Mais que isso, multiplicado. Falta a nós ter o tato e mostrar às autoridades que tudo isso já esta posto, debatido e acordado. Agora é a vez da mudança de consciência. E a cultura é sim um instrumento eficaz (longe de mim estabelecer seus bens como mero utilitarismo) para a mudança de toda uma sociedade. Mas antes disso, é preciso mostrar o que é isso para a população, seja ela no campus, na cidade, no país ou no mundo.


A questão, meus caros, não é a cerveja. Pelo menos não para o Tamboril. Trata-se aqui de um debate mais denso e tenso. Tirar a cerveja do campus é tirar o “público indisciplinado culturalmente”. É não permitir que esse, ainda desacostumado em apreciar ações artísticas, tenha o estímulo mínimo para esse primeiro passo. Sim, assim como tantos outros problemas sociais no Brasil, o problema da Cultura é cultural. Faz parte da consciência coletiva da nossa sociedade. É triste sim depender do entorpecimento para que a fruição da produção artística dentro do campus aconteça. Isso nos revela o quanto o debate do público em nossa sociedade não passa de mero constrangimento do privado. Mas isso é outro estágio. Futuro próximo ou longínquo, ainda sim é futuro. O que torna-se presente e importante é a capacidade de fruição cultural. Essa capacidade não se dará apenas com o incentivo a produtividade, mas também com a sensibilidade social. E essa sensibilidade só acontece se conseguirmos atingir as pessoas, o público.


Por hora, amigos, é isso que nos afeta: a incompreensão lúcida dos que comandam (pois sim, eles é que estão no papel de espertos) aliada a incompreensão torpe dos que reivindicam. Até quando vamos vestir e aceitar o papel de palhaços?


Não estaria na hora de ampliarmos o debate e as mentes e antes de agirmos como estudantes universitários carente de festinhas, começarmos a agir como gente grande que comeu lanchinho no recreio e cresceu.


Que entre agora outra etapa. E se o pau for formal, que ele venha, pois não vemos a hora!

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